sexta-feira, 27 de março de 2009

Gêneros e tipos textuais: um (des) encontro na escola

O trabalho do professor de Língua Portuguesa a partir da abordagem dos gêneros textuais não é recente e conta com boa base teórica, uma vez que os estudos de Marcuschi e Travaglia, entre outros, dão subsídios suficientes sobre o assunto.

As reflexões sobre o fazer pedagógico e sobre o que é válido – e por que não? - necessário ensinar, feitas pelos professores da área, levam a conclusões (compartilhadas por professores de outras disciplinas): entre os conteúdos mais importantes, merece destaque o trabalho com gêneros textuais. Assim, as teorias defendidas pelos estudiosos funcionam como parâmetros para as discussões e ações que norteiam, praticamente, todo o trabalho dos professores: é preciso instrumentalizar o aluno para lidar bem com os diversos textos aos quais é exposto diariamente e, ainda, torná-lo capaz de produzi-los, quando necessário, especialmente, extra muros escolares.
Poucos professores de Língua Portuguesa desconhecem o que defende a maioria das teorias:

* Os gêneros não são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. São, ao contrário, os diferentes formatos que os textos assumem para ser pertinentes e funcionais;
*Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos;
*Surgem emparelhados a necessidades e atividades sócio-culturais, bem como na relação com inovações tecnológicas.
*Fruto de trabalho coletivo, os gêneros contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia.
*Nós criamos os nossos textos a partir do oceano de textos anteriores que estão à nossa volta e do oceano de linguagem em que vivemos. E compreendemos os textos dos outros dentro desse mesmo oceano.
*Nossa competência sociocomunicativa nos habilita a tomar decisões na hora de usar determinado gênero, quando precisamos saber o que pode/deve -ou não- ser dito, como/em qual situação dizer, e, ainda, adequar o gênero à situação. Essa competência é, na verdade, a capacidade que temos para perceber as diferenças na organização dos textos a partir das nossas experiências pessoais;
*Um gênero pode ser subdividido em subgêneros: o cordel seria um subgênero do gênero poesia
*Kock (2007) fala sobre a intergenericidade ou hibridização que ocorre quando um gênero assume a forma de outro tendo em vista o propósito de comunicação. Ou seja, uma tirinha pode trazer uma receita, por exemplo, de como ser feliz. O gênero vai continuar sendo tirinha. O que ocorre é que mesmo sendo veiculada na forma de receita, a função do gênero permanece. Assim, um gênero pode não ter uma determinada propriedade e ainda continuar sendo aquele gênero. Por exemplo, Uma publicidade pode ter o formato de um poema ou de uma lista de produtos em oferta; o que conta é que divulgue os produtos e estimule a compra por parte dos clientes ou usuários daquele produto.

Marcuschi (1999) diz que não acredita na existência de Gêneros Textuais ideais para o ensino de língua. Ele afirma que é possível a identificação de gêneros com dificuldades progressivas, do nível menos formal ao mais formal, do mais privado ao mais público e assim por diante.

No que se refere às concepções sobre tipos textuais, sabemos que:
*Os tipos são definidos por propriedades lingüísticas;
*Constituem sequencias linguisticas ou sequencias de enunciados;
*Sua nomeação abrange um numero limitado de categorias determinadas por aspectos lexicais, sintáticos, relações lógicas, tempo, etc;
*Costumava-se adotar apenas a tipologia textual clássica: narração, descrição e dissertação;
*Os estudos de Pereira (1993) falam sobre uma combinação entre essa classificação e outra na qual os textos seriam informativos, persuasivos e lúdicos;
*Modernamente se classifica os tipos como: narrativo, descritivo, dissertativo, injuntivo e preditivo;
*Os dois últimos, por serem fruto de discussões mais recentes causam certa insegurança e dúvida entre professores e alunos, mas são usados sempre que empregamos um chamamento ou uma instrução;
*Quando se nomeia um certo texto como "narrativo", "descritivo" ou "argumentativo", não se está nomeando o gênero e sim o predomínio de um tipo de seqüência de base;
*Travaglia (2002) fala em conjugação tipológica. Para ele, dificilmente são encontrados tipos puros. Num texto como a bula de remédio, por exemplo, que é injuntivo, tem-se a presença de várias tipologias, como a descrição, a injunção e a predição . Travaglia afirma que um texto se define como de um tipo por uma questão de dominância, em função do tipo de interlocução que se pretende estabelecer e que se estabelece, e não em função do espaço ocupado por um tipo na constituição desse texto.
*Marcuschi defende o trabalho com textos na escola a partir da abordagem do Gênero Textual e não da Tipologia Textual, uma vez que, para ele, o trabalho fica limitado, trazendo para o ensino alguns problemas. Para ele, não é possível, por exemplo, ensinar narrativa em geral, porque, embora possamos classificar vários textos como sendo narrativos, eles se concretizam em formas diferentes – gêneros – que possuem diferenças específicas.

Entretanto, o conhecimento sobre as teorias não garante um resultado positivo e não torna os alunos leitores proficientes, pois os equívocos por parte de alguns professores (observados durante oficinas realizadas ano passado em escolas da região) e até escritores de livros didáticos ainda são grandes. Por exemplo:
*Alguns professores, sem citar nenhum gênero e dando ênfase somente aos aspectos lingüísticos do texto, ainda solicitam ao aluno que escreva uma “narrativa”
*O próprio professor, quando em situação de estudo, (como nas oficinas do Gestar, por exemplo) produz um texto e classifica o tipo, quando foi solicitado que produzisse um gênero, e não percebe a diferença;
*Muitos alunos quando questionados sobre o gênero textual analisam e respondem sobre aspectos referentes à tipologia e, muitas vezes, não são corrigidos pelo professor;
*Muitos autores de livros didáticos ainda direcionam o olhar do aluno somente para a tipologia, tanto nas seções de análise com na de produção de texto ;

Observei dois livros usados aqui na cidade e percebi o seguinte:
* Leila Lauar, no livro Português – Leitura , produção e gramática, da Editora Moderna, encaminha a análise e a produção dando ênfase quase que totalmente para o estudo da tipologia. Em uma seção do livro da 7ª série convida o aluno a fazer uma “produção de história com discurso direto e indireto”. Nas orientações para a produção do texto, fala em narrativa, chama, ainda, a atenção do aluno para o nível de linguagem a ser usado no texto, mas não cita nenhum gênero textual.
* Já Terezinha Bertin, no livro Tudo é linguagem, da Ática, no livro da 7ª série, por exemplo, refere-se a um texto por seu gênero (conto) e encaminha o estudo tanto para a identificação dos elementos da sequência discursiva - levando o aluno a fazer análise lingüística, por exemplo e a observar os efeitos de sentido de determinadas expressões - quanto para o estudo do gênero, quando, ao orientar a produção deixa claro qual gênero deverá ser produzido.

Tudo isso possibilita a seguinte conclusão: os estudos sobre gênero e tipologia textual estão muito bem divulgados e os professores estão buscando acertar nas escolhas de metodologias que possibilitem a formação do leitor e produtor proficiente, entretanto, o caminho ainda mostra-se longo e com alguns descaminhos. Estes professores precisam estar conscientes de que o livro didático, um dos principais recursos/apoios de que dispõem para encaminhar o trabalho com gêneros textuais - entre outros- deve ser complementado com muita criatividade, estudo, pesquisa e embasamento teórico.


REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

MARCUSCHI, L. A. Por uma proposta para a classificação dos
gêneros textuais. Recife: UFPE, 1999. (inédito).

KOCK, Ingedore, ELIAS, Vanda Maria, Ler e compreender os sentidos do texto, editora Contexto, São Paulo, 2007
BORGATTO, Angela, BERTIN, Terezinha, MARCHEZI, Vera, Tudo é linguagem, editora Ática, São Paulo, 2007
SARMENTO, Leila Lauar, Portugues – leitura, produção e gramática, editora Moderna,São Paulo,2006
TRAVAGLIA, L. C

2 comentários:

Isabel Cristina disse...

Diza, você está impossivel! Parabéns pela reflexão, de fato os (des)caminhos só nos levarão a um bom lugar se conjugarmos a criatividade, o estudo (pessoal) e, acrscento, o bom-humor. O estudo de gêneros textuais ainda é um terreno movediço, felizmente, estamos construindo as bases dessa nova perspectiva de ensino calcados em reflexões teórico-práticas. Sucesso sempre. Bjks, Isabel

Professora Renata disse...

Olá eu também faço gestaarII em Camboriú Sanata catarina adorei sua reflexão.Tenho algumas postagens de trabalho em um blog paixaoemensinar.blogspot.com
beijo e parabéns