sábado, 28 de fevereiro de 2009

A construção de uma professora

Uma professora em formação

Há vinte anos iniciei minha carreira como professora meio que por acaso. Na verdade, fiz o magistério por influência das amigas com as quais convivia e estudava - Elas mudaram de escola e eu fui junto para não ficar só - . Quando cheguei lá é que descobri que era para estudar para ser professora. Não me assustei, nem recuei. Na verdade, achei interessante a idéia de dividir meus conhecimentos e não senti nenhuma dificuldade em apresentar trabalhos, falar algo à frente da turma, etc. Logo de inicio, me senti muito à vontade diante da turma, das professoras e das disciplinas, especialmente Didática e Psicologia. Fui uma das melhores da turma. (apesar de ter um namorado que não gostava de estudar e que estava sempre me procurando no horário da aula e, além disso, me dar muito trabalho porque queria namorar comigo e com todas as meninas conhecidas. Além dele, havia também as festinhas e cervejas e violões: coisas boas demais para serem deixadas de lado por uma adolescente)

Concluindo o curso (também terminei o namoro e conheci outro rapaz), comecei a trabalhar em uma área que não tinha nenhuma relação com o que tinha aprendido, mas não pensava muito em ser professora. Casei dois anos depois e foi então que surgiu o primeiro concurso público do estado de Pernambuco. Incentivada pelo meu marido e pela minha mãe, decidi fazer o concurso e, para surpresa minha, consegui uma boa classificação. Assumi a função e decidi, então, fazer Faculdade - sabia que precisava aprender muito mais - . Fiz vestibular para Biologia e comecei a cursar, mas além de ter engravidado logo no inicio do curso, não me identifiquei com nada durante as aulas a que assisti. Abandonei a Faculdade, ganhei meu bebê e no ano seguinte fiz outro vestibular para Letras.

No início, achei tudo muito difícil, especialmente a disciplina Teoria Literária, mas queria muito aprender e conheci um amigo que sempre me incentivava dizendo que eu era inteligente e capaz de superar qualquer obstáculo. Foi aqui que começou minha paixão pelas letras, ou melhor, que eu a redescobri e passei a refletir sobre ela – já era uma leitora voraz desde criança graças à minha mãe, que me contagiou com o seu prazer de ler, mesmo sendo semi-analfabeta - Acho que, por isso e para não decepcionar nem ao meu amigo, nem a ninguém, eu fazia tudo com muito cuidado e atenção. Tentava, estudava muito e conseguia não ficar em final e aprender de verdade tudo que estava sendo ensinado. Concluí o curso e, na semana da colação de grau, nasceu meu segundo filho.

Na escola, que ficava em um bairro recém criado, eu estava quase entrando em desespero porque além de ser muito longe de casa e de não ter ônibus disponível, a comunidade era difícil de ser compreendida e atendida em seus anseios, porque era formada por pessoas de fora da cidade que tinham muitos objetivos, poucas perspectivas e pouca assistência. Trabalhava em uma turma de 4ª série do Ensino Fundamental 1, mas não conseguia fazer um bom trabalho e vivia constantemente procurando minha coordenadora para dividir e diminuir minha angústia, minhas dúvidas e minha ansiedade. Hoje, percebo que muitos alunos foram prejudicados pela minha falta de experiência e também pela falta de orientação. A coordenadora não conseguia me ajudar o suficiente e o governo do estado não proporcionava espaço para reflexão e estudo.

Ao concluir a faculdade também comecei a dar aulas para turmas de 5ª a 8ª séries, mas continuava muito insatisfeita, por isso, estava sempre lendo alguma coisa e tentando inventar aulas, estratégias de leitura, mas sem muita base teórica. Quando um aluno disse na sala que jamais tinha lido um livro e nunca se imaginara fazendo isso, mas que a partir do meu incentivo tinha lido o primeiro e se surpreendido com a sensação e com o conhecimento adquirido através dele, eu senti um prazer enorme que me fez perceber que a minha paixão pela leitura poderia ser compartilhada e que, como professora, eu poderia fazer muito mais que isso pelos meus alunos.

Após dez anos, mudei de escola e passei a trabalhar com turmas de 5ª série do Ensino Fundamental a 3ª do Ensino Médio. Meu interesse em estudar as diversas teorias e procurar aplicá-las na sala de aula cresceu e se diversificou, por isso, sempre que havia formação, palestras e encontros na minha área eu participava e decidi, então, fazer especialização. Não havia mais vaga na minha área então fiz Interdisciplinaridade na Educação Básica. Logo que conclui fui aprovada em uma seleção para dar aulas na Universidade de Pernambuco e em outra particular recém chegada à região. Foi uma experiência enriquecedora e gratificante e eu procurava dividir com os estudantes além dos conhecimentos teóricos, também a minha experiência de sala de aula.

Hoje, após vinte anos de trabalho, leciono somente em turmas de Ensino Médio, continuo inquieta e estudando muito, mas, além de diretora adjunta de escola, já atuei como coordenadora pedagógica e formadora em dois cursos sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais e em uma formação continuada para professores de Ensino Médio. Isso me deixa bastante à vontade com o Gestar, porque consigo reconhecer a ligação entre este e os PCN, e já percebi a qualidade do material que será usado na formação. Estou certa de que o Programa contribuirá e acrescentará muito ao meu conhecimento, dos meus alunos e também de todos os professores que se dispuserem a refletir a partir dos textos propostos e aplicar, na medida do possível, as atividades sugeridas.

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