quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Gestar: teoria, prática, aprendizagem e emoção

OFICINA DE PRODUÇÃO TEXTUAL DO TP 6

A cada dia uma certeza é mais visível para mim: ninguem passa indesperto ou intocado pelo gestar. De alguma maneira, os encontros, as reflexões mexem com a gente, para o bem ou para o mal. Para fazer, refazer ou desfazer nossas convicções, nossa prática, nosso caminhar. Nessa oficina, entre as propostas de produção, os cursistas escreveram sobre suas próprias experiências. Algumas tristes, algumas engraçadas, algumas com traços de saudosismo. A de Edivângela me chamou a atenção pelo conteúdo reflexivo, pelo quanto me fez pensar sobre tantas atitudes impensadas e as vezes mesquinhas. Acho que o recado que ela manda a todo professor é, no mínimo, revelador das nossas falhas, das nossas carências e do quanto temos ainda que ser trabalhados para que possamos fazer o mesmo com nosso aluno. Leiam e, por favor, deixem seus comentários:
"GESTAR II – Petrolina
Petrolina-PE, 17 de setembro de 2009.

Caros colegas professores,
Não usarei o velho refrão “venho por estas mal traçadas linhas...” porque quando criança eu não entendia muito bem o sentido dessa expressão, já que as cartas eram escritas em papel pautado com linhas bem definidas e retas. Também, sem querer rejeitar nossos precursores da escrita já que nos dias de hoje, com tantos multimeios assessorando a comunicação, quem imitaria Machado de Assis ou mesmo seus personagens como Aires ou Bentinho? Mas, deixando o velho discurso para trás, me volto para o agora. Creio que todos estejam calmos, descansados e que tenham dormido um pouco mais que o normal ou, se não descansaram, que ao menos tenham aproveitado a “folga” para atualizarem as atividades do Gestar, afinal de contas, há muito para ser realizado. Depois da última paralisação nacional sei que estão todos bem. Diga-se de passagem: embora correndo o risco de sofrerem um belo desconto.
Mesmo sem a intenção, sei que já causei certo desconforto.
Colegas, sabendo que o congresso do qual vocês irão participar será todo financiado pela secretaria de educação e que este tem o objetivo de trabalhar a autoestima dos professores e consequentemente, dos alunos, orientando-os e capacitando-os quanto aos mecanismos para tratar com ética e profissionalismo um tal problema chamado “bulling”. Que, pelo observado in lócus, não diz respeito somente ao fato de as crianças e adolescentes tratarem as outras de algo que seus olhos realmente vêem mas que por razões pessoais, não aprovam e acabam por taxar o outro de gord..., tor..., preti..., mas principalmente, como a violência simbólica tem se expandido em muitas repúblicas e de forma sutil. Com isso, exércitos inteiros perdem suas armas, suas forças e ainda saem rotulados de inoperantes, incompetentes e descartáveis.
Na era do bulling entra também em cena um tal “exército free”, e este, por sua vez, reforça o bulling traduzido por tortura psicológica, financeira e por aí a coisa vai se alastrando com o bulling em série. Coisas da vida!
Confesso a vocês, meus colegas congressistas, que fica difícil ajudar quando não se tem o antídoto em reserva suficiente para si. “Afinal, como diz minha vó Ziza, a Vitalina do Sertão: “só se dá o que se tem com sobra” “ Farinha pouca, meu pirão primeiro”.
Quem disse que estou perdida nas linhas ou entrelinhas? Misturei suas idéias? Pois bem, venho por este meio de comunicação “carta” tão esquecido e desprezado, quase em extinção, expor de forma engraçada, conforme solicitado por Diza, nossa mestra querida, (Essa atividade não vale nota. O querida é sincero), na atividade do último TP do Gestar de Português para, repito: de forma engraçada, contar um problema ocorrido na escola com esta que vos escreve.
A cena se passou a cerca de vinte anos, durante a apresentação da primeira apresentadora da primeira equipe do primeiro trabalho do primeiro período da primeira turma de Pedagogia da FFPP. Percebeu que fui primeira em tudo. Sempre soube que desbravadores são pioneiros. O problema é que por vezes, somos também cobaias.
Em se tratando de autoestima, aviso-lhes: a rejeição ao nome é uma “doença” comum entre alunos e também professores. Conto-lhes: ...entre calafrios, sudoreses, tique nervoso nas pálpebras, repetições de né (s), então e quem sabe até alguns oxentes enquanto apresentava meu primeiro trabalho. Começo: uma colega de classe fazia chacota o tempo todo. Descrevo: morena, alta, perfilada, muito bonita, quase patricinha, olhava para meus pés (salto alto cordoban caqui (última moda titia), combinando com um belo conjunto secretária, também caqui, contrastando com adornos vermelho). Até aqui, tudo bem, se não fosse um simples detalhe: usava também as meias pezinho. Olhava para meus pés, apontava com o indicador e sorria indiscretamente ao ponto de chorar de tanto rir. Pior que isso, conduzia seu “grupinho” a fazer o mesmo.
Confesso que demorei para descobrir a razão daquele comportamento, uma vez que estava segura do conteúdo. Tão logo percebi, tratei de respirar profundamente e, com muita elegância, segura da carta na manga, (a colega odiava seu primeiro nome, atendia aos chamados somente quando era pronunciado seu segundo nome e na hora da chamada para a freqüência de classe, ficava sempre coladinha aos professores a fim de impedi-los de pronunciarem o nome que ela detestava). Friamente questionei: Será que eu falei alguma coisa engraçada FULANA? (soletrei calmamente seu nome). Justifiquei: Porque se falei algo engraçado FU-LA-NA, peço-lhe que diga para que eu também possa sorrir, já que mesmo tendo preparado com carinho e capricho esta aula, continuo nervosa. Se me fizer sorrir FULANA, ficarei muito grata.
Não preciso dizer a cor e o jeito que a morena ficou. Prefiro pular essa parte sórdida da cana. A questão é que, até EU, aproveitei das suas fraquezas/frustrações com o próprio nome e não poupei esforços para deixá-la envergonhada e constrangida.
Hoje, passados longos anos, sinto-me arrependida por, na época, mesmo diante das circunstâncias, ter usado a lei de Moisés: “dente por dente e olho por olho”. Naquele momento pareceu-me delicioso, providencial e autêntico. Só que, para minha surpresa, há pouco mais de um ano, tive a oportunidade de relembrar o fato com a professora “daquela famosa aula”.
Na minha ingenuidade, ignorância e petulância, “enchi a boca de gozo” para pronunciar o nome da colega para revidar humilhações.
Puro constrangimento passei ao ouvir da minha professora favorita e testemunha do meu ato de crueldade intelectual. Ouvi sim! Ouvi de “sua própria boca” (redundância geral) que seu primeiro nome é igualzinho ao da colega de quem tanto zombei. Nesta hora, confesso que lembrei o poema de Neimar de Barros “Deus Negro”...que decepção...
Procurei chão e não achei! Fui alvo do fantasma: o nome de FULANA ecoava em meus ouvidos em uma versão que eu jamais poderia imaginar. Elevada ao quadrado foi a minha tristeza e vergonha. Como podia? Os sentimentos de ambas (ex-colega e ex-professora) em relação ao nome pareciam também semelhantes. A diferença consistia tão somente em: Quem deveria ajudar quem a elevar sua autoestima?
Depois de tudo isso meus amigos, sugiro que sejam trabalhadas e discutidas questões alusivas ao tema e que, se possível, descubram formas, fórmulas ou até antídotos para essa doença que aprisionam em gaiolas internas, pessoas brilhantes. Arrisco dizer que, quando todos gostarem e assumirem seus nomes como sendo a música que verdadeiramente alegra a sua alma ou tão somente como o nome de guerra que estabelece força ao vencedor.
Finalizo esse conto, carta ou súplica abraçando e desejando votos de bom aprendizado a todos os congressistas.

De uma professora que lida todos os dias com situações e vidas que necessitam de carinho e reparos.

Edivângela Ferreira de Souza Rodrigues.
Aluna toda prosa de Diza guerreira."

Um comentário:

Unknown disse...

Professora Diza,



Visitei seu blog e percebi o quanto foi interessante seu trabalho sobre argumentação. Como sou professora no segundo grau, gostaria de poder aplicar a oficina citada, mas há leitura de textos da unidade 21 mencionada que não é citada a fonte de referência, portanto se fosse possível citares a refência bibliográfica,ficaria muito grata.