quinta-feira, 30 de julho de 2009

Isso é que é viver !!!

Quando me separei ouvia muito as pessoas repetindo uma frase: “puxa! Que pena! Não deu certo, não é?!” e isso me incomodava bastante. Em primeiro lugar porque detesto aquele olhar de pena que muitos lançam, às vezes até inadvertidamente. Depois, porque meus verdadeiros amigos sabiam o que eu havia passado nos últimos tempos e estavam, de certa forma, compreendendo todos os meus sentimentos, além disso, tinham participado de tantos momentos bons da minha vida que um comentário como aquele ali seria desnecessário e descabido

Descabido, sim, porque se eu tive um casamento de 20 anos, é porque deu certo. Deu certo durante o tempo que era pra dar. Tudo o que acontece na vida tem um momento determinado. Não dá para viver uma coisa depois de o tempo dela passar.
Não posso (por mais que queira) me emocionar agora como o fiz aos dezessete anos porque amanheci o dia em uma festa. (A sensação foi tão fantástica naquele momento que eu e minha amiga-irmã, Lane, gargalhamos até rolar no chão, acordar a mãe dela e quase despertar o pai que nos daria uma bela bronca e acabaria com nossa incontida alegria – que legal!! Adoooooro lembrar disso)
O casamento acabou porque o momento dele passou, mas isso não significa que vou me arrepender amargamente por ter casado um dia, pois se não o tivesse feito, não teria, por exemplo, tido meus dois filhos, amado demais e sido também muito amada, aprendido junto com ele uma porção de coisa que hoje me faz ser uma pessoa bem melhor.
Gente!! Isso se chama viver !! Isso é que é viver!! Não dá para passar pela vida, sem viver!!
Não deu certo é? Nada disso! Apenas seu momento passou. isso é que é viver.
Sabem por que eu me lembrei de tudo isso? Porque Naedja, uma menina muito sabidinha que ta no Gestar aprendendo junto comigo as manhas e artimanhas da língua portuguesa, me mandou um texto de Danuza Leão, muuuuuito legal. Olhem como eu tenho razão!!! Olhem como eu e ela concordamos!!
“Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa,contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido. Uma só.Quanto mais sofisticado o restaurante,menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantasvezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade.
A gente sai pra jantar, mas come pouco. Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil(a imensa maioria das mulherescontinua com pavor de ser rotulada de 'fácil'). Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta. Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.
E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero,politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua,o compasso, a bússola, a balançae os 10 mandamentos. Ser ridícula, inadequada, incoerentee não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo.
Um dia.
Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem maciase o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK? Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago . . .”

Um comentário:

gestarsaofrancisco: (Re)significando a prática disse...

Diza,
Chega um momento em nossas vidas que nos percebemos mais maduros,mais conscientes do que realmente é importante para vivê-la de fato.Muitas coisas (clichês)da nossa sociedade nos limita.É muito bom quando nos sentimos livres,vivos.
Bjs.
Fabio.